E sem mapas prontos.
Por Nelson Matheus
É comum queremos ser felizes igual à um outro alguém, ao personagem do filme, àquele amigo do instagram, e tantas outras opções que surgem diariamente. O mercado dos livros com fórmulas, dos cursos milagrosos e das pessoas com todas as respostas cresce de forma desesperada. Mas, o desespero é de quem? Fica essa pergunta.
Nesse investimento (o de sermos felizes iguais a…) parece que sempre esbarramos com a fatal realidade: você não é aquela pessoa. Parece chocante, não é?! Sendo que no dia a dia, somos engolidos por essas propostas tentadoras, a de esquecermos tudo o que nós somos, de nossas histórias e problemas às possibilidades de criarmos o nosso próprio jeito de sermos felizes.
Claro que à primeira vista, e sem uma análise cuidadosa, se torna fácil optar por caminhos como esses, inclusive porquê desaprendemos a lidar com o mal estar inerente à condição humana, de pensar sobre sua própria existência (Ser ou não ser? Qual o meu propósito de vida? Há um propósito para tudo isso?).
É mais fácil criar uma maquiagem, e viver a proposta de vida de um outro alguém — como se esse alguém tivesse conseguido se livrar do seu trágico destino de ser humano, com falhas, com momentos de tristeza, mas também com conquistas, com alegrias e crescimentos, com altos e baixos.
Na condução de tratamentos analíticos (através da psicanálise), muitas vezes surge a questão direcionada a mim, na posição de analista: “o que eu devo fazer (para ser feliz) nessa ou naquela situação?” Sim, porquê é isso que buscamos: felicidade, sempre. Porém, uma coisa que uma psicanálise bem conduzida ensinará àqueles que recorrem a ela em busca de respostas, é que são as perguntas construídas durante a análise que auxiliarão na construção dessas respostas, que precisam passar pelo desejo da própria pessoa.
E é neste ponto que surge o dilema da felicidade. Acompanhar o trajeto de várias pessoas, inclusive refletir sobre a minha própria análise pessoal, junto com os fundamentos da teoria psicanalítica, assim como alguns ensinamentos de certas tradições orientais, torna possível enxergar a placa de sinalização para a felicidade de cada sujeito, apontando para a construção dessas respostas, sempre individuais, e no “um a um”.
A felicidade se impõe como um caminho estreito, uma vez que, por esse caminho, só passa uma pessoa. Isso se torna óbvio quando se compreende que a felicidade é um caminho individual, e intransferível. E que felicidade não significa a anulação do real da vida da pessoa, mas o conseguir assimilar algo que seja útil para que se possa seguir em frente, diante das adversidades, sempre da melhor forma, com cada vez mais lucidez e satisfação no viver.